Delegado Ítalo Biancardi Neto da Divisão Estadual de Narcóticos – DENARC.
cambedefato.com / 10 de junho de 2019.
A
Divisão Estadual de Narcóticos (Denarc) da Polícia Civil do Paraná prendeu nos
primeiros quatro meses do ano 147 pessoas envolvidas no tráfico de drogas.
Também foram recuperados 71 veículos e 46 armas de uso restrito, além de perto
de 23 toneladas de maconha, 5 toneladas de cocaína, mais de 200 quilos de crack
e quantidades expressivas de haxixe, LSD, ecstasy e sintéticos. Dados da
Secretaria de Segurança Pública apontam crescimento de 47,6% na apreensão de
ecstasy e 29,9% na de crack em relação aos primeiros meses do ano passado.
Esses números, no entanto, são apenas a ponta do iceberg que é descortinado dia
após dia com ações estratégicas. Segundo o delegado Ítalo Biancardi Neto,
responsável pelos oito núcleos estaduais da Denarc, os números evidenciam a
estratégia de combate ao crime organizado operacionalizada a partir do ataque a
toda a cadeia, da fabricação de drogas ao transporte e comercialização.
Os objetivos são retirar as drogas de circulação das ruas com eficiência e
impedir que esse mercado prolongue a promiscuidade com criminosos que cometem
furtos, roubos, homicídios e lavagem de dinheiro. “Nós atacamos a posse, o
transportador, o fornecedor, o chefe da célula e os patrões do grupo. Com muita
inteligência”, afirma o delegado Biancardi. “Nosso objetivo é trabalhar de
forma abrangente, sem escolher uma determinada variável e ficar apenas nela
para engrandecer esses números”, diz ele.
“Cada núcleo tem a sua região de abrangência e suas preocupações. A ideia é
olhar isso de forma global. De todas as variáveis do narcotráfico, do varejão
aos entrepostos. E, principalmente, onde acontecem os problemas decorrentes
como homicídios, prostituição, aliciamento de crianças e as áreas próximas às
escolas”.
Integração – Faz parte da estratégia
da Denarc, incentivada pela Secretaria de Segurança Pública, a integração das
forças das polícias civil e militar para ajudar a conter o abuso do uso de
drogas e a oferta nas ruas. As dificuldades passam pelo tamanho do mercado
consumidor e pela pulverização em todas as classes sociais.
O delegado destaca que tem muita gente consumindo, de todas as classes. A
diferença é do nível econômico. “Quem tem dinheiro usa LSD, ecstasy, cocaína,
MDMA. Maconha e crack são mais acessíveis a classes menos afortunadas. Mas
todas estão consumindo e consumindo muito. Isso retroalimenta o narcotráfico”,
explica o delegado. “Esse é um sistema empresarial. Como a demanda é grande, a
oferta também aumenta”.
Segundo as últimas pesquisas, o consumo tem crescido em todo o País, que está
prestes a se tornar o segundo maior mercado consumidor de cocaína do mundo,
atrás apenas dos Estados Unidos. “O Brasil é uma rota de exportação, mas também
lugar de chegada para consumo. Isso dá a dimensão do problema e dos crimes que
estão conectados”, diz Biancardi.
Novas soluções – Esse trabalho
integrado com outros órgãos de investigação permite, também, a elucidação de
crimes que demorariam mais para sair das fichas policiais. Segundo Ítalo
Biancardi Neto, mais de 90% dos crimes de homicídio estão vinculados ao
narcotráfico direta ou indiretamente, o que amplia a necessidade dessa
comunhão.
O País ainda assiste cerca de 60 mil assassinatos todos os anos. No Paraná, são
cerca de dois mil, número que caiu 10% de 2017 para 2018. Neste ano, de janeiro
a março foram registrados 381 homicídios dolosos, contra 558 no mesmo período
de 2018. A redução chegou a 32%. Os números são do relatório estatístico da
Secretaria da Segurança Pública e Administração Penitenciária.
O delegado usa como exemplo a prisão de um integrante de uma organização
criminosa em fevereiro deste ano. Ele foi detido em Curitiba e portava uma
pistola de calibre 9mm. O compartilhamento de informações dessa prisão com a
Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da capital permitiu a
identificação dele como autor de três homicídios.
Para aumentar o poder de controle e a troca de informações sigilosas das
investigações, o Denarc, explica o delegado, vai buscar estreitar parceria
também com a Delegacia de Furtos e Roubos e a Delegacia de Furtos e Roubos de
Veículos.
“As divisões têm que se integrar, conversarem, como a Denarc e a DHPP. O
trabalho de elucidação dos homicídios acaba enveredando para o narcotráfico, e
as investigações dos cartéis interessam muito aos policiais da Homicídios. É
uma diretriz do departamento para que haja cooperação inclusive entre interior,
capital e região metropolitana”, destaca.
Mais conectados – Esse planejamento
leva em consideração o modelo de funcionamento dos cartéis de drogas no século
21. Segundo Biancardi, eles já foram centrados em grandes narcotraficantes e
rotas específicas. Atualmente são menores, mais conectados e difíceis de serem
identificados por conta da lavagem de dinheiro. “Os grandes cartéis se
subdividiram. São menores, usam mais rotas, tem mais gente envolvida no
processo. E temos também o tráfico invisível, que para a repressão gera mais
complexidade, que é a lavagem de dinheiro”, explica.
“De modo geral o cenário ainda é muito delicado, independente desse foco macro
sobre a área. A região de Foz do Iguaçu, Pato Branco e Maringá concentram parte
das drogas da Bolívia, Peru e Paraguai. É uma preocupação pelo transporte.
Quando chega a Curitiba a droga pulveriza muito rápido e fica mais complexo
pegar o cabeça. Nesse setor predomina a lei do silêncio. São inúmeras
dificuldades”, complementa.
Fronteira – Segundo o delegado-geral
da Polícia Civil do Paraná, Silvio Rochemback, os objetivos da repressão passam
também pela estratégia de fronteira. “O que dificulta o nosso trabalho é a
extensão da nossa fronteira. Ano a ano o índice de apreensão e a quantidade de
operações de repressão qualificada para desarticular organizações criminosas
aumentam”, afirma.
“A cada ano intensificamos o trabalho de inteligência para que os ataques da
Polícia Civil sejam cirúrgicos, de forma a cortar a cadeia de fornecimento das
drogas que entram pelo Paraná e são distribuídas em outros estados”.
Problema social – Ao mesmo tempo em
que atua na repressão ao crime organizado, a Polícia Civil mantém nas
estruturas da Denarc o Centro Antitóxicos de Prevenção e Educação (CAPE), em
que policiais fazem atendimento à sociedade.
Eles têm como meta esclarecer a comunidade a respeito da drogadição,
principalmente de adolescentes, bem como formar agentes multiplicadores para o
combate ao uso de entorpecentes. Os policiais também encaminham seus assistidos
a entidades públicas ou privadas que controlam dependência física ou psíquica.
Abrangente – As dificuldades
aumentam porque a sociedade está doente, segundo o delegado do Denarc. “Estamos
trabalhando toda essa conjuntura para, do ponto de vista da inteligência,
impactar determinados locais e regiões do Estado. Um trabalho que não se
encerra na repressão ao tráfico. Há esforços contra a lavagem de dinheiro, os
laboratórios de sintéticos, os entrepostos. Estamos diante de um problema
abrangente, temos que pensar de forma complexa daqui para frente”, completa.
Mobilização – Para ajudar a compreender
e discutir todas essas questões, o governador Carlos Massa Ratinho Junior
lançou a campanha “Junho Paraná sem Drogas”, que foi instituído pela Lei
Estadual 19.121/17. A proposta é promover durante todo o mês ações para
esclarecer a população sobre os riscos do uso e abuso de álcool e outras
drogas, e incentivar a busca de orientação, esclarecimento e tratamento,
disponível na rede pública de saúde.
CDF com SESP. Fotos: Geraldo Bubniak/ANPr e redes sociais.
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